Reunião virtual, comemoração de aniversários em plataformas digitais, aulas não presenciais. Estas expressões passaram a ocupar, com frequência, as nossas rotinas diárias de atividades profissionais e pessoais, em função da necessidade de isolamento social.

Mas se tudo isso é possível e bastante comum, ultimamente, pergunta-se: é possível iniciar uma união estável virtual?

O fato é que muitos casais de namorados passaram a namorar à distância, em função da pandemia mundial, e da consequente necessidade de nos privação das antigas rotinas diárias.

Aquele namoro considerado “normal” era caracterizado por alguns encontros rápidos semanais, por trocas de inúmeras mensagens em todos os aplicativos possíveis, e pelos finais de semanas juntos, fisicamente juntos. Não raro, aos finais de semana, um deles ia “de mala e cuia” para a casa do outro, com uma malinha contendo as roupas (necessárias?) para um final de semana a dois.

Muito romance, muito amor, mas sem planos futuros de uma vida juntos.

Com o distanciamento físico, muitos casais passaram a incrementar os relacionamentos através das frequentes postagens nas redes sociais. Frases como “eu não vivo sem você”, “estou morrendo de saudades, amor da minha vida” e “depois que esse período passar, quero passar a vida inteira com você”.

Ao fazer uma rápida passagem pelo feed de notícias de uma rede social, muitos amigos de um determinado casal, passaram a perceber que o amor entre os dois estava escancarado, publicado para quem quisesse ver. E pergunta é a seguinte: todas as declarações de amor representam uma intenção de constituir família?

Porque, como se sabe, o que diferencia um namoro sério (ou qualificado) de uma união estável é justamente a intenção, a vontade de formar uma família com aquela pessoa. Tempo, durabilidade, publicidade, isso o namoro, e a união estável tem também. Então, só nos resta analisar a tal vontade.

Uma vontade estampada na página pessoal de alguém, que divulga a sua intenção de permanecer “para sempre” com a outra pessoa, pode não querer dizer que a pessoa quer realmente constituir uma vida a dois com aquela pessoa.

Mas se existe algo que é certo, é que quem fala (ou escreve) expressa o que sente, ou melhor, acredita ter sido claro(a) na expressão daquele sentimento. Quem ouve (ou lê) faz, necessariamente, uma interpretação daquilo que acredita ter compreendido. Nem sempre o que um queria dizer é o que o outro interpretou a partir daquilo.

E diante do risco de dar a entender uma continuidade talvez não intencional, é melhor deixar claro: ame, demonstre o seu amor, mas se quiser compartilhar seus planos futuros, entenda as possíveis consequências da eventual caracterização de uma união estável.

Talvez este seja um dos próximos desafios para os Tribunais brasileiros, o de analisar a existência ou não de uma união estável virtual, caracterizada pelas declarações e intenções publicadas, nestes últimos tempos de reinvenção de todas as formas de convivência que conhecíamos.

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